quinta-feira, 31 de março de 2011

Testamento

À prostituta mais nova Do bairro mais velho e escuro, Deixo os meus brincos, lavrados Em cristal, límpido e puro... E àquela virgem esquecida Rapariga sem ternura, Sonhando algures uma lenda, Deixo o meu vestido branco, O meu vestido de noiva, Todo tecido de renda... Este meu rosário antigo Ofereço-o àquele amigo Que não acredita em Deus... E os livros, rosários meus Das contas de outro sofrer, São para os homens humildes, Que nunca souberam ler. Quanto aos meus poemas loucos, Esses, que são de dor Sincera e desordenada... Esses, que são de esperança, Desesperada mas firme, Deixo-os a ti, meu amor... Para que, na paz da hora, Em que a minha alma venha Beijar de longe os teus olhos, Vás por essa noite fora... Com passos feitos de lua, Oferecê-los às crianças Que encontrares em cada rua... Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque

2 comentários:

  1. Lobo, não conhecia esse precioso testamento. O que é meu também deixo as crianças. Elas hão de destruir o que não tem razão de ser e hão de reinventar o que for de verdade.
    Beijos.

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  2. Olá Bipede,

    Como podes constatar, a minha resposta não foi com um post mas sim com dois.

    Quanto ao Testamento, de facto, deixamos tudo. A alguém ou se calhar a ninguém. Seja como for recuso-me a levar o que quer que seja.
    Um beijinho

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