segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Bravio
A bailar
como os meus dedos.
Tem em si
Mil cantigas,
Mil segredos.
E rompendo contra a rocha
Vem à praia.
Beija os meus pés,
Os teus,
Porfim desmaia.

As gaivotas
Gritam emoções
De um mar caído,
A espumar,
Em convulsões.

São Pedro, 15-08-2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Da vida que vai

Águas revoltas
Quanto baste
Num mar azul, calmo e celeste
Imenso e vagaroso
Em contraste
O vento que sopra
Fugindo
Daquela peste
Qual dia do fim
Corre por mim
Que as águas essas
Continuam revoltas
Mesmo que penses
Que um dia vais e não voltas
Não, tudo é perfeito
Nem mesmo tu
Com ou sem jeito
Poderás ir sem voltar
Nem que seja por mim
Apenas por mim

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Poema para a Negra"

Deixa que os outros cantem o teu corpo
que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volupia vã do pitoresco,
entoem madrigais á tua dor.
Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que teem sabor de manga.
Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista facil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.
Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captaçãoo atonita do viço
e fiquem sempre, toda a vida,
a olhar um muro de mistério e de feitiço...
Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a propria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!

Tomaz Vieira da Cruz ( Angola)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Posso ser só este espaço.
Posso ser a cortesia.
Posso ser aquela vénia
Que faço
Quando aqui passo
Ao passar de cada dia.
Posso ser só o sorriso.
O olhar,
O trocar de olhares.
Aquele arrepio que sinto
No momento que me dizes
O que dizes ao passar.
Posso ser só as lembranças
E a vida
Que for mais bela.
Posso ser só os olhares.
A palma da minha mão;
O beijo que aqui me deste
Que fugiu p' ró coração.

27-VIII-2009