segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lento é o tempo

Corre lento
Ao vento
O tempo

Tão lento
Corre o tempo
O sonho
A alma e a vida

Com vento
E tempo
O alento
Do pensamento
Que ao vento
Lento
É tormento

Com vento
Corre o tempo
Lento
Julgamento
Do tempo
Em que o sonho
Era só um momento.

Corre lento o tempo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010


PRESENÇA AFRICANA

E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...)
pelos meninos

de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!

Alda Lara - Benguela,1953 (de Poemas,1

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Grito à Vida

Quando te ofereço
O que sei
Que não tenho
É porque sonhei
Que alguma vez terei.

É porque acredito
No amanhã.
Porque acredito
Que irei acordar.
Porque serei
O que este
Breve tempo
Me tornar.

É porque acredito
Que terei um sorriso
P’ra te dar.
Que o meu olhar
Será capaz
Então
De te dizer
O que som nenhum
Te sabe oferecer.

É porque acredito
Que te digo agora:
Vive a Vida,
Vive cada hora,
Cada passo,
Cada suspiro,
Cada expressão,
Cada palavra.
Sê tu mesmo.
Tua mais viva afirmação.

Lx. 30-I-2010

Dedicado a Prof. José Manuel Ferro e restante equipa de neurologia do Hospital de Santa Maria

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Porque eu quero
Abrir os braços,
Como quem chega
A todos os cantos
Da manhã.

Porque quero
Olhar
O sol
De frente
E esperar que chegue
Uma aurora
Ainda mais desperta
E atraente.

Porque quero
Espreguiçar
Com os braços
Da minha vida;
Ser o sorriso do luar;
Encostar a cabeça
Ao colo
Que é teu
E teu
E teu.
Sentir meigo.
E acreditar.

Lx. 03-II-2010