quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS

Zé, festas muito felizes e fartas para que durem o ano inteiro. Um abraço.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


Presença africana

e apesar de tudo
ainda sou a mesma!
livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou
mãe-África!

mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra,
puro e incerto!

a dos coqueiros
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul…

a do desdém
nascendo dos abraços
das palmeiras…

a do sol bom,
mordendo
o chão das ingombotas…

a das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas
longas e floridas…
sim, ainda sou a mesma

a do amor transbordando

pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11… rua 11)

pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos…

sem dores nem alegrias,
de tronco nu e corpo musculoso
a raça escreve a prumo
a força destes dias…
e eu revelo ainda
e sempre, nela
Aquela
longa história inconsequente…

terra!
minha, eternamente!
terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios, baloiçando
mansamente… mansamente

terra!
ainda sou a mesma!

ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!...

Alda Lara (1930-1962)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010


Lágrima

Lágrima,
De alguém que chora e sofre
De alguém que ri e vive.

Lágrima
Que sulca a tez envelhecida
De quem tem ainda esperança
Da vida para lá da lembrança

Lágrima
Que rola qual seixo no leito de um rio
Como bola de uma criança
Saltitando de história em história
Buscando em cada letra
A cor de um arco-íris
De alguém que lhe escute a vida

Ó quantas lágrimas
No cinza do nosso entardecer.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


Ser e Estar

Há dias em que sou!
Outros não.
Há dias em que estou!
Outros não
Eu. Só mesmo eu
Sou e estou
Aqui e agora, eu
Talvez não.
Há dias em que sim!
Outros não.
Eu sou, e estou.
Aqui e sempre
Talvez sim, talvez não.
Não, nada disso.
Estou e sou,
Sempre e aqui
Para ti
Eu.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Emily Dickinson

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Gente Humilde

Sendo assim brasileira, volta e meia, sinto vontade de chorar.

Gente Humilde
Garoto - Vinicius de Moraes - Chico Buarque
1969

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras nas calçadas
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

domingo, 3 de outubro de 2010


“Amigo”

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra "amigo".

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" é o contrário de inimigo!

"Amigo" é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.

"Amigo" é a solidão derrotada!

"Amigo" é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O`Neill, in "No Reino da Dinamarca"

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Sentir

A quem sente
A tristeza...
A loucura...
Possuída de um Eu sem sentido.
A quem sente
A frieza...
A nostalgia...
Da alma escura na solidão imensa.
A quem sente
Que o tempo foge...
Que apaga a memória...
Dos amigos que eram ...
E que já não são.
A quem sente
Que ainda é tempo...
De estender a mão ao seu irmão.
A quem sente
Que vale a pena ...
Voltar á razão...
Renascer e viver.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010



fernando pessoa

"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"


fernando pessoa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

José Carlos Ary dos Santos

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Parabéns.
Conta muitos.
Tem umdia feliz.
Grande abraço
Henrique

PARABÉNS.


Desejo-lhe um dia muito feliz. Cheio de coisas boas.
Beijinhos.
Anabela

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Caros Amigos,

O tempo corre rápido e está na hora de começarem os preparativos para o grande encontro.

Pelo nosso lado, temos tudo preparado para vos receber e uma vez mais ajudar a criar um momento que é vosso, e que esperamos seja inesquecível para todos.

É já daqui a dois meses, mais propriamente no fim-de-semana de 18 e 19 de Setembro de 2010. Vamos estar de novo em Mira, para celebrar mais um encontro, o 21º de muitos outros em que iremos seguramente participar.

Contamos com todos vós, a vossa ajuda na divulgação pelos amigos Cubalenses é determinante para que mais e mais possam partilhar destes momentos de prazer e amizade, contando e recontando as histórias que nos ligam.

Gostaríamos de apelar á vossa compreensão, não deixando para o fim as vossas inscrições, tal facto dificulta significativamente a tarefa das organizações, as quais tem feito todo o possível para assegurar momentos agradáveis a todos os que se juntam em cada encontro.

Até lá, e como dizia o poeta “Traz outro amigo também”.

Um grande abraço

Mimi, Sousa, Lobo

terça-feira, 13 de julho de 2010

TRIBUTO

Tributo ao grupo de homens e mulheres de grande coragem, que enfrentaram de peito aberto os Adamastores!

Um punhado de valorosos navegadores
Da muito brava raça lusitana
Atreveram-se a enfrentar Adamastores
Tarefa que alguns consideraram insana

Partiram temerosos de não regressar
Antecipando rápidos e quedas mortais
Deram tudo o que tinham para dar
E ainda tiveram que dar muito mais

Foram tempestades e chuvas torrenciais
As naus galgando ondas enormes
tripulantes gritando credos e ais
Na visão de mostrengos disformes

Finalmente, vieram tempos de bonança
O porto seguro surgiu na margem
Na tripulação renasceu a esperança
De sobreviver a esta terrível viagem

Do comandante vieram ordens de atracar
Secar as roupas e esquecer agruras
Á espera de todos um grande manjar
E a ansiedade de novas aventuras

Henrique

sábado, 29 de maio de 2010


Quem está gemendo?


Quem tá gemendo,
Negro ou carro de boi?
Carro de boi geme quando quer,
Negro, não,
Negro geme porque apanha,
Apanha pra não gemer...

Gemido de negro é cantiga,
Gemido de negro é poema...

Gemem na minh'alma,
A alma do Congo,
Da Niger, da Guiné,
De toda África enfim...
A alma da América...
A alma Universal...

Quem tá gemendo,
negro ou carro de boi?

Solano Trindade

segunda-feira, 24 de maio de 2010

21º Encontro dos Antigos Alunos do Cubal

Caros Amigos...

Eis-nos de novo!

Tal como prometido aqui estamos para vos dar mais algumas informações sobre o nosso encontro.
Vamos uma vez mais, estar juntos e aqui vai o nosso convite que estamos certos vão aceitar.
Acreditem que todos fazemos uma enorme falta, pois só assim conseguiremos manter vivo este espaço de partilha e amizade. Quanto a nós, organização, uma vez mais, tudo faremos para tornar este 21º Encontro em mais um momento para todos inesquecível.

Todos juntos, os Cubalenses, iremos por certo desfrutar momentos que nos fazem regressar a um tempo longínquo mas de grande importância.

Ajude-nos na tarefa de sermos cada vez mais, motivando aqueles que lhe estão próximos para estarem connosco no próximo fim-de-semana de 18/19 de Setembro de 2010.

Quanto ao local, uma vez mais o Hotel da Quinta da Lagoa em Mira, que bem conhecemos e que nos tem retribuído com a maior simpatia e disponibilidade.

No que respeita ao evento, o 21º Encontro, junto enviamos o programa e respectivo preçário, podendo desde já adiantar que a nossa noite será abrilhantada pelos já nossos conhecidos e amigos do Trio Áfrika, que nos habituou a grandes noite de “farra”.

Observação: Para iniciar o convívio bem mais cedo, convidamos-vos a inscrever-se para o almoço de sábado, onde, para além de um óptimo menu poderá estar bem perto dos seus amigos.


PROGRAMA

Dia 18 de Setembro

11:00 – 13:30 – Recepção e Concentração no Hotel Quinta da Lagoa
13:30 – 15:00 - Almoço
15:00 – 18:30 – Actividades diversas
20:30 – 22:30 – Jantar
22:30 – 05:00 – Animação e Baile

Dia 19 de Setembro

09:00 - 11:00 - Despertar e pequeno-almoço

∫∫∫∫

Ementas

Almoço 18 de Setembro


Couvert
Sopa
Prato de peixe
(Bacalhau à Lagareiro)
Buffet de sobremesas com fruta e doces
Vinho tinto e branco, águas minerais e refrigerantes
Café e digestivos

Jantar 18 de Setembro

Sopa
Prato de Peixe e Prato de Carne
Buffet de sobremesas com fruta e doces
Vinho tinto e branco, águas minerais e refrigerantes
Café e digestivos
Ceia
(Caldo verde, Bolinhos de Bacalhau, Rissóis, Croquetes, Presunto, Queijo Rabaçal, etc.)


PREÇÁRIO

Quarto Individual------------------------------------------- € 42
Quarto Duplo ----------------------------------------------- € 47
Cama Extra ------------------------------------------------- € 16
Almoço------------------------------------------------------ € 20
Jantar, Ceia e Cocktail de Recepção ---------------------€ 36
(crianças com menos de 6 anos não pagam e dos 6 aos 12 anos pagam 50%).
Quota------------------------------------------------------- € 7,5

As inscrições e os respectivos pagamentos (por cheque), devem ser feitas impreterivelmente até ao dia 5 de Setembro de 2010, para o seguinte endereço:

Jose Lobo Pires – Rua Alexandre O’Neill, Nº11 – 1ºEsq, 2745 – 896 Tercena

Para quaisquer outros esclarecimentos é favor contactar a comissão organizadora através dos seguintes contactos:

Mimi Peixoto --- Tlm 96 5 876 468 - mcppeixoto@gmail.com
Manuel Faria de Sousa – Tlm 96 0 315 802 - mfsousa1@hotmail.com
Jose Lobo Pires – Tlm 91 9 410 968 - jose.lobo.pires@gmail.com


Um grande abraço e até lá
Saudações Cubalenses

quinta-feira, 20 de maio de 2010


O Mundo numa lágrima

Ó quanto me apetece
Chorar as lágrimas do fim
Do mundo que já não há em mim
Em que o coração esmorece
E a vida não é mais o que parece
Já não cheira a Jasmim
Mesmo rezando aquela prece
Lá pró fim do meu festim
É o mundo que desaparece
Como se alguma vez
Partisse e acabasse
Vestindo aquela veste
De alguém que ousasse
Afrontar o vento sueste
Ao menos uma vez na vida...

terça-feira, 20 de abril de 2010

À VIDA

Primavera
Que sou de mim.

Chama-me esta
Suave brisa,
Como se a aurora
Fosse já
O orvalho,
O sol,
O poente,
O renascer:
A certeza de nunca me ir embora.

Partir?
Sei que chegarei a novos prados,
Mais belos...
E onde a água nunca falta.

Lx. 20-04-2010

segunda-feira, 29 de março de 2010


Sons dos Tons

Dó,
Ré, mi
Pétalas dos meus tons
Desenhados para ti
Nas cordas da minha viola.

Dó,
Ré, mi...
Cores dos meus sons
Cantados para ti
Na tela dos meus sonhos.

Dó,
Ré, mi...
Imagens dos meus acordes
Inscritos naquela pauta
Pintada para ti.

Dó,
Ré, mi...
Tantas partituras
Esboços coloridos
Escondendo agruras
Em momentos perdidos
Procurando loucuras
Lá no fundo dos sentidos
Oh, mas porque tanta desventura?.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sinto-me
Aquele pingo de água
Que te faltou;
Colherada de arroz
Que não te chegou;
O vestido que trago
E que podia ser o teu.
Sinto-me
A voz de quem quer gritar;
A vista atenta
De quem sente
Nada ter p’ra olhar;
E o coração
[sobretudo o coração]
De quem já nada sente;
De quem é grito de dor;
Olhar de compaixão;
De quem já nem acredita
No amor.
Sinto-me
Simples estender de mão.

Lx. 18-10-2009

A PUBLICIDADE PODE SER FANTÁSTICA!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Alma não tem cor










Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou negro
Branquinho, neguinho
Branco, negon
Alma não tem cor
Porque eu sou branco
Alma não tem cor
Porque eu sou jorge mautner
Percebam que a alma não tem cor
Ela écolorida
Ela é multicolor
Azul, amarelo, verde, verdinho, marrom
Cê conhece tudo, cê conhece o reggae
Cê conhece tudo né, cê só não se conhece...

Letra de André Abujamra para a banda Karnak

quarta-feira, 3 de março de 2010


21º Encontro da Associação dos Antigos Estudantes do Cubal

Caros Amigos Cubalenses

O tempo corre!
Há uma ano preparávamos o 20º Aniversário desta Associação. Eis-nos já a preparar o 21º Encontro da Associação dos Antigos Estudantes do Cubal.
Este ano será um pouco mais cedo para que possamos gozar da melhor forma o bom tempo desta época do ano.
Assim, a data para mais este Encontro – reencontro para muitos – será no fim-de-semana de 18 e 19 de Setembro / 2010, no Hotel Quinta da Lagoa, em Mira, de todos bem conhecido pela simpatia com que nos tem recebido.
Estaremos lá e como sempre, para vos acolher naquele abraço caloroso e amigo. Contamos com todos vós e… tragam um amigo também.
Oportunamente, voltaremos de novo com mais informações, tais como o programa, preços, etc.etc.

Um abraço Cubalense

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lento é o tempo

Corre lento
Ao vento
O tempo

Tão lento
Corre o tempo
O sonho
A alma e a vida

Com vento
E tempo
O alento
Do pensamento
Que ao vento
Lento
É tormento

Com vento
Corre o tempo
Lento
Julgamento
Do tempo
Em que o sonho
Era só um momento.

Corre lento o tempo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010


PRESENÇA AFRICANA

E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...)
pelos meninos

de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!

Alda Lara - Benguela,1953 (de Poemas,1

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Grito à Vida

Quando te ofereço
O que sei
Que não tenho
É porque sonhei
Que alguma vez terei.

É porque acredito
No amanhã.
Porque acredito
Que irei acordar.
Porque serei
O que este
Breve tempo
Me tornar.

É porque acredito
Que terei um sorriso
P’ra te dar.
Que o meu olhar
Será capaz
Então
De te dizer
O que som nenhum
Te sabe oferecer.

É porque acredito
Que te digo agora:
Vive a Vida,
Vive cada hora,
Cada passo,
Cada suspiro,
Cada expressão,
Cada palavra.
Sê tu mesmo.
Tua mais viva afirmação.

Lx. 30-I-2010

Dedicado a Prof. José Manuel Ferro e restante equipa de neurologia do Hospital de Santa Maria

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Porque eu quero
Abrir os braços,
Como quem chega
A todos os cantos
Da manhã.

Porque quero
Olhar
O sol
De frente
E esperar que chegue
Uma aurora
Ainda mais desperta
E atraente.

Porque quero
Espreguiçar
Com os braços
Da minha vida;
Ser o sorriso do luar;
Encostar a cabeça
Ao colo
Que é teu
E teu
E teu.
Sentir meigo.
E acreditar.

Lx. 03-II-2010

domingo, 24 de janeiro de 2010


Sonho... dos Sonhos

Claros cinzentos ou escuros
Brilhantes ao sol raiar
Esvoaçam serenos entre muros
Desafiando a quem os quer parar
Tem asas voz e coração
Não os deixes amordaçar
Sente e vive a tua paixão
Como se tudo fosse apenas começar
Com as armas desses teus sonhos
Que cada dia e em cada mão
Fugindo de encontros medonhos
Encontrarão quem sofra na solidão
Sim, na solidão de uma vida que não tem.

Há sempre alguém para lá dos teus sonhos

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O cercado

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe
feito pelas tuas mãos
e fios do teu cabelo
cortado na lua cheia
guardado do cacimbo
no cesto trançado das coisas da avó

Onde está a panela do provérbio, mãe
a das três pernas
e asa partida
que me deste antes das chuvas grandes
no dia do noivado

De que cor era a minha voz, mãe
quando anunciava a manhã junto à cascata
e descia devagarinho pelos dias

Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe
se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera
p'ra lá do cercado

(Dizes-me coisas amargas como os frutos)

Ana Paula Ribeiro Tavares
África no corpo e na alma...

Os teus defeitos são graças
desse mistério profundo...
Saudade de duas raças
que se abraçaram no mundo!

Tomaz Vieira da Cruz (Angola)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Caminhos

Desconheço
As minhas coordenadas.
Tomo a direcção
P'ra onde não vejo
Nem passos,
Nem estradas.

Quero caminhar,
Apenas,
Pelo que for aventura.
Por caminhos abertos
Entre noite escura
E abismos cerrados.

Quero ser
O que desconheço.
O inacessível.
O que sei que não crês
Que eu possa ser.

Quero ser
Só porque desconheço.
Só porque não sei
Se alguma vez serei.

Quero ser
[Amanhã]
Hipotética conquista;
Ou ao menos,
Aquela que tentei.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010


Alma minha que sejas


Passando por ti naquela rua
Brisa gélida que susurra baixinho
Óh quanta alma, talvez só mesmo a tua
Empurrada ao vento qual pergaminho
De leveza tal esvoaça solitária
Como poema de voz a sua
Qual sentença outrora sumária
Que algures em qualquer caminho
É alma de fonte imaginária
Brota alma minha e segue o destino
Num tempo em que por encanto
Os momentos de carinho
Ao mundo são de espanto
Alma minha quantas amarguras
Ao sabor to meu pranto
Gritos de revolta e agruras.

Alma minha, porquê tais desventuras?