quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


Presença africana

e apesar de tudo
ainda sou a mesma!
livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou
mãe-África!

mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra,
puro e incerto!

a dos coqueiros
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul…

a do desdém
nascendo dos abraços
das palmeiras…

a do sol bom,
mordendo
o chão das ingombotas…

a das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas
longas e floridas…
sim, ainda sou a mesma

a do amor transbordando

pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11… rua 11)

pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos…

sem dores nem alegrias,
de tronco nu e corpo musculoso
a raça escreve a prumo
a força destes dias…
e eu revelo ainda
e sempre, nela
Aquela
longa história inconsequente…

terra!
minha, eternamente!
terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios, baloiçando
mansamente… mansamente

terra!
ainda sou a mesma!

ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu povo!...

Alda Lara (1930-1962)

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